Brasília, 03/10/2024

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Pacheco confirma instalação de CPMI e governo já articula integrantes

O presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), confirmou nesta quinta-feira (20) que irá instalar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Antidemocráticos na próxima quarta-feira (26). “No dia 26, vai acontecer aquilo que deveria ter acontecido no dia 18, que é a leitura [do requerimento] da CPMI. Eu nunca me furtei a isso em qualquer circunstância. Seria esse o encaminhamento mesmo da leitura da CPMI, considerando que ela preenche os requisitos”, disse o pessedista, em entrevista concedida durante uma agenda em Londres.

A confirmação de Pacheco vem após a reviravolta ocorrida no jogo político desde quarta-feira (19) em relação à posição do governo Lula diante da pauta. A gestão era contra a criação do colegiado por entender que os Poderes Executivo e Judiciário têm feito o seu trabalho na investigação dos atos golpistas de 8 de janeiro e principalmente por avaliar que a CPMI bagunçaria os planos do governo, atrapalhando as agendas de votação no Congresso.

Os aliados do Planalto, no entanto, mudaram de ideia após a CNN veicular imagens que mostraram a presença do então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general da reserva Marco Edson Gonçalves Dias, no Palácio do Planalto durante os ataques dos extremistas pró-Bolsonaro. A revelação das imagens constrangeu o Palácio e atiçou o jogo em torno da CPMI, fazendo com que interlocutores importantes do governo passassem a vocalizar a defesa da comissão.


Gonçalves Dias e Lula / Ricardo Stuckert/PR

Foi o que ocorreu ainda na quarta (19) com a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, e com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do governo no Congresso. Outros diferentes governistas fizeram acenos pró-CPMI nas últimas 24 horas, após o episódio envolvendo Dias, como é o caso do deputado Lindberg Farias (PT-RJ), que concedeu coletiva nesta quinta junto com outros deputados para tratar do tema.

“Estou convencido de que essa CPI vai ser um tiro no pé dos bolsonaristas, porque uma coisa eles não vão conseguir mudar com falsas narrativas: todos sabem que foram as bases bolsonaristas que atuaram naquele dia 8 de janeiro. Nós vamos com muita energia pra essa CPI. Estamos separando os melhores quadros para estarem lá”, disse.

Mudança de rumos

Com o vazamento do vídeo e a demissão de Dias, a leitura de interlocutores próximos a Pacheco passou a ser de que seria difícil evitar a criação da CPMI. Diante do novo cenário, o governo tenta agora exercer alguma liderança nos movimentos pró-comissão, como forma de tentar controlar os rumos do processo a seu favor. O pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) Danilo Morais observa que a demora em aceitar a criação do colegiado trouxe problemas para a gestão.

“O retardamento teve como consequência mais prática alimentar a narrativa bolsonarista de que a invasão às sedes dos três Poderes seria uma iniciativa do próprio governo pra se vitimizar e se fortalecer e, ao mesmo tempo, emparedar a oposição, o que não faz nenhum sentido, já que os ataques manifestadamente partiram dos opositores do atual governo. Portanto, esse retardamento serviu de alguma maneira pra conferir substância a essa narrativa completamente fantasiosa”, analisa o pesquisador, que também é mestre em Poder Legislativo pelo Cefor, o programa de pós-graduação da Câmara dos Deputados. (BdF)

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