Brasília, 30/09/2024

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EUA boicotaram processo de paz entre Rússia e Ucrânia em 2022 por preferirem caos na Europa

Analistas ocidentais ativam a criatividade para justificar o boicote dos EUA e Reino Unido às negociações de paz entre Ucrânia e Rússia ainda em 2022. Apesar do malabarismo argumentativo, os novos documentos provam que a paz na Europa só será possível com uma mudança de postura em Washington.
Artigo recém-publicado pela revista norte-americana Foreign Affairs revela que o conflito ucraniano poderia ter sido solucionado ainda em maio de 2022, quando Rússia e Ucrânia publicaram um acordo para colocar fim às hostilidades.
Os autores do artigo confirmam: Moscou e Kiev publicaram um acordo chamado Comunicado de Istambul e estavam a um passo da paz, quando países ocidentais interferiram para impedir a assinatura do armistício.
“Ao invés de abraçar o Comunicado de Istambul e subsequente processo diplomático, o Ocidente aumentou a ajuda militar para Kiev e a pressão sobre a Rússia, inclusive com a imposição de regime de sanções cada vez mais fortes”, escrevem os autores na Foreign Affairs.
Novos documentos analisados pela revista reafirmam que, durante visitas de alto escalão a Kiev, representantes de EUA e Reino Unido se opuseram ao processo de paz. Para os aliados da OTAN, o conflito representava uma oportunidade de enfraquecer a Rússia às custas dos ucranianos.
Ucrânia renunciava às intenções de aderir à OTAN ou de permitir a instalação de forças militares internacionais em seu território. Em troca, garantias de segurança robustas eram oferecidas a Kiev por países como EUA, Reino Unido, França, Canadá, Alemanha, Israel, Itália, Polônia e Turquia.
As garantias de segurança previstas no documento eram amplas e bastante detalhadas. Em caso de invasão estrangeira, as partes eram obrigadas a providenciar assistência militar, impor uma zona de restrição de voo, fornecer armamentos e intervir diretamente em caso de necessidade.
objetivo russo de desnazificação da Ucrânia também estava contemplado no Comunicado de Istambul. Além da proibição de ideologias extremistas como o “fascismo, nazismo, neonazismo e nacionalismo agressivo”, a Ucrânia deveria banir a glorificação de colaboradores nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Com tochas, nacionalistas ucranianos de extrema-direita marcham em celebração do 113º aniversário de Stepan Bandera, colaborador de Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial, em Kiev, em 1º de janeiro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 27.04.2024
Com tochas, nacionalistas ucranianos de extrema-direita marcham em celebração do 113º aniversário de Stepan Bandera, colaborador de Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial, em Kiev, em 1º de janeiro de 2022
O último elemento a ser resolvido era o território ao qual as garantias de segurança seriam estendidas. Esse importante fator seria acordado em uma reunião entre os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Ucrânia, Vladimir Zelensky, prevista para ocorrer em Jerusalém ainda no primeiro semestre de 2022.
No entanto, a intervenção do Ocidente impediu que as negociações fossem concluídas. Nas fases finais das negociações, o então primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, se opuseram ao acordo e garantiram a Zelensky o apoio militar incondicional.

A estratégia de Washington para lidar com o conflito ucraniano não incluía negociações de paz, mas sim “suporte massivo para a Ucrânia, pressão massiva sobre a Rússia” e a mobilização de “mais de 30 países para esses esforços”, disse o secretário de Estado Antony Blinken durante sua visita a Kiev em abril de 2022.

O artigo da Foreign Affairs conclui, sem tirar nem pôr, que a intervenção dos EUA e Reino Unido impediu a formalização de um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia em maio de 2022, com o objetivo deliberado de manter a guerra em curso.

Reação distorcida no Ocidente

O artigo da Foreign Affairs foi recebido no Ocidente com ceticismo. Comentaristas ocidentais argumentaram que os EUA não poderiam fornecer garantias de segurança à Ucrânia sem arriscar um confronto nuclear com a Rússia, e por isso acordaram em rejeitar o Comunicado de Istambul.
De fato, os autores do artigo da Foreign Affairs apontam que os países do Ocidente não estavam dispostos a fornecer garantias de segurança à Ucrânia.

“Naquele momento, e nos dois anos seguintes, a disponibilidade de […] realmente se comprometer com a defesa da Ucrânia no futuro esteve notavelmente ausente em Washington e nas capitais europeias”, escreveu a Foreign Affairs.

Muito admira que Washington não tivesse a intenção de interferir diretamente no conflito ucraniano. Afinal, os EUA não escondem que mantêm pessoal militar e de inteligência na Ucrânia atualmente e, portanto, participam do esforço de guerra.
Além disso, a presença de tropas da OTAN na Ucrânia foi recentemente confirmada pelo ministro das Relações Exteriores da Polônia, Radoslaw Sikorski. O chanceler alemão Olaf Scholz foi além disso e atestou a presença de tropas nacionais de França e Reino Unido na zona de conflito.

Conflito nuclear?

A alegação norte-americana de que aderir ao Comunicado de Istambul colocaria os EUA em risco de um conflito nuclear com a Rússia também gera questionamentos. É a manutenção do conflito, e não a paz, que coloca as partes em risco de embate nuclear. De acordo com o próprio presidente dos EUA, Joe Biden, atualmente o risco de “Armagedom nuclear” é o maior em 60 anos. (Sputnk Brasil)

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