Brasília, 30/09/2024

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Maior do mundo, eleição da Índia chega à reta final com Modi acusado de opor hindus a muçulmanos

Nem o crescimento econômico, nem a projeção internacional, nem a alta popularidade. A polarização entre hindus e muçulmanos tem sido a grande carta na manga utilizada pelo primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, para garantir sua reeleição nas eleições do país, que entraram na reta final nesta semana. Informações do G1.

O último grupo dos 970 milhões de eleitores convocados a votar no pleito do país — mais de 10% da população mundial — irá às urnas neste sábado (1º). A votação ocorre ao longo de sete semanas, e cada região vota em datas diferentes. A contagem dos votos começa na próxima terça (4); o vencedor será anunciado até quinta (5).

Desde seu início, em 19 de abril, o processo de votação vem sendo marcado por acusações de que Modi vem tentando colocar em disputa a população hindu, que é maioria, com a minoria muçulmana.

Segundo analistas do país, o premiê, com alta popularidade, pretende fomentar a polarização para que os hindus, religião de cerca de 85% da população e da base de sua sigla, o Partido Bharatiya Janata (PBJ), compareçam aos locais de votação.

Uma estratégia que pode ter sido redesenhada às pressas por conta de outro fator que marcou a primeira das sete fases: um baixo comparecimento às urnas, principalmente por parte da população hindu.

“O Modi tem mais camadas que a questão religiosa, mas a religião é o grande ponto de mobilização [de sua campanha]. Ele já entendeu que os muçulmanos não importam para sua reeleição”, disse ao g1 o professor de política internacional Tanguy Bagdhadi.

As acusações começaram após Modi lançar sua campanha em uma das cidades mais sagradas para o hinduísmo.

Ainda assim, o premiê, um dos maiores defensores do nacionalismo hindu no país, começou a corrida eleitoral baseando-se no pilar do crescimento econômico da Índia, na intenção do país em se tornar uma nova potência e em sua alta popularidade.

No entanto, nas ainda na primeira fase das eleições, ele foi migrando seu discurso nas questões religiosas. O premiê acusou a principal legenda de oposição, o Partido do Congresso, por exemplo, de ser pró-muçulmano.

“Ele tem usado o discurso de que muçulmanos estão se reproduzindo mais rápido para se tornar maioria no país”, afirmou Bagdhadi, que disse achar que o premiê adotará a narrativa também em um novo governo, no caso de se reeleger.

 

“Ele sabe que, dessa maneira, conseguirá se manter como favorito dos hindus e não precisará depender sempre de resultados econômicos para isso.”

Há duas semanas, questionado sobre a possível estratégia, Modi negou:

“O dia em que eu começar a falar sobre hindus e muçulmanos (na política) será o dia em que perderei minha capacidade de levar uma vida pública”, disse o premiê, falando em hindi. “Não farei isso. Essa é a minha decisão”.

Mas, na semana passada, quando as eleições chegaram à Caxemira, outro foco de tensões, Modi voltou a usar o discurso.

Em 2019, o premiê indiano retirou o status de semi-autonomia de Srinagar, a maior cidade da região, que é dividida com Paquistão e China, e já foi palco de um dos principais conflitos do século XX pela disputa do território.

governo nacional passou a controlar diretamente a cidade, com o argumento de que a medida traria desenvolvimento econômico e paz para a Caxemira. A região, no entanto, tem maioria muçulmana e um forte sentimento anti-Índia.

Caso consiga se reeleger, como apontam as principais pesquisas eleitorais, Modi irá para seu terceiro mandato consecutivo, completando um feito que apenas um premiê conquistou, o fundador da Índia moderna e um dos líderes da independência do país Jawaharlal Nehru

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