Em mensagem de áudio liderança do município de Jordão denuncia os graves impactos ocasionados pelo aumento crescente da atuação das facções entre indígenas jovens da cidade e nas aldeias; ele pede respostas imediatas por parte da Funai e da Polícia Federal
Montezuma Cruz
Dos varadouros de Porto Velho
O líder Huni Kuĩ Zé Banê, do Rio Jordão, denunciou 11 passado, o envolvimento de facções criminosas com aldeias Huni Kuĩ e na cidade de Jordão, sobretudo na venda de drogas entre os jovens. A droga, principalmente cocaína, tem chegado à noite nas aldeias do Acre e os traficantes ameaçam indígenas. Anteriormente, bebidas alcoólicas já ameaçavam as comunidades indígenas, conforme relata Zé Banê.”Alguns parentes estão todos perdidos”, lamenta.
Em mensagem de áudio ao indigenista Terri Aquino – que iniciou seus trabalhos com os povos indígenas na região do Alto Tarauacá e Jordão, nos anos 1970, – eles pedem ajuda na intercessão com órgãos governamentais, no sentido de evitar o pior nas aldeias de todo o município de Jordão.
– Boa tarde Terri. Como está você. Tamo aqui no Jordão, na luta na defesa de nossa terra, do nosso povo. As coisas não tá de brincadeira, né?
Um tanto a contragosto, os Huni Kuĩ estão mobilizados para evitar situações graves no interior de suas terras. Por essa razão, pedem o apoio do coordenador da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Eldo Shanenawa, e da Polícia Federal. O objetivo é evitar a presença de pessoas não residentes na região, à exceção daquelas autorizadas pelas autoridades.
Segundo Zé Banê, medidas de prevenção poderão evitar em conflitos e mortes. “Eu convido o Txai Macedo e Txai Marcelo, que também trabalharam aqui. Neste momento temos a invasão da terra Huni Kuĩ, muito preocupante.”
Ele conta que já perdeu um sobrinho em consequência do tráfico. E lembra o caso do filho do vice-prefeito, João Barbosa, que levou 42 facadas.
Indígenas reivindicam o impedimento do acesso de pessoas estranhas do município dentro das aldeias. Jordão (9,2 mil habitantes) fica a 480,8 quilômetros de Rio Branco em linha reta. Possui 5,4 mil km² de extensão, uma das maiores da Amazônia Brasileira.
O município só é acessado por via fluvial ou aérea. Sua proximidade com a fronteira peruana, onde estão os laboratórios de produção de cocaína, o faz ser desejado pelas facções criminosas do Sudeste brasileiro, que desde 2015 travam uma guerra pelo controle da rota da droga que passa pela Amazônia.
A decisão de restringir a entrada de terceiros à T.I. Kaxinawá do Baixo Jordão foi tomada depois de consulta mútua entre as lideranças indígenas. No entanto, os Huni Kuĩ querem ouvir o posicionamento das autoridades no Acre e em Brasília.