Brasília, 28/09/2024

Brasília, 28/09/2024

Após Macron nomear premiê de direita, esquerda protesta e diz que ‘eleição foi roubada’ na França

Jean-Luc Mélenchon, líder do partido de esquerda A França Insubmissa (LFI), principal agremiação da coalizão vencedora das eleições parlamentares francesas deste ano, a Nova Frente Popular (NFP), disse que o presidente francês Emmanuel Macron “negou a democracia” ao nomear o político de direita Michel Barnier como primeiro-ministro do país e que “a eleição foi roubada do povo francês”.

Na quarta-feira, a LFI apresentou uma proposta de destituição de Macron, pela recusa em nomear como primeira-ministra Lucie Castets, candidata da NFP, e convocou uma grande manifestação para o próximo sábado (7).

“Apresentamos a proposta de resolução para destituir o presidente da República”, anunciou o grupo parlamentar da LFI, maior força dentro da NFP, revelando que a proposta conta com “81 assinaturas [de deputados] de três grupos parlamentares, mais de 212 mil assinaturas populares da petição online”.

Guinada à direita

Em um comunicado divulgado nesta quinta-feira (5), a Presidência francesa anunciou que Macron solicitou a Barnier a “formação de um governo de unidade”, após semanas de consultas “sem precedentes.” “O presidente garantiu que o primeiro-ministro e o próximo governo reunissem as condições para que sejam os mais estáveis quanto possível” e para que tenham o maior apoio possível no Parlamento, afirma o comunicado.

“Serão necessários muita escuta e muito respeito. Respeito entre o governo e o Parlamento, entre todas as forças políticas […]. Eu começarei a trabalhar nisso a partir desta noite”, disse Barnier em suas primeiras declarações como primeiro-ministro.

Após seu breve retorno à política francesa em 2021 para disputar sem sucesso as primárias do LR para as eleições presidenciais de 2022, Barnier defendeu especialmente uma “moratória” sobre a imigração.

Aos 73 anos, Barnier, que foi ministro em diversas ocasiões, comissário europeu e negociador-chefe do Brexit – que determinou a saída do Reino Unido da União Europeia – pode contar com o apoio de seu partido, Os Republicanos (LR), e da aliança de centro-direita de Macron.

Mas isto seria insuficiente diante de uma possível moção de censura, caso tanto o partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) e seus aliados como a coalizão de esquerda votassem contra Barnier. Os dois blocos juntos totalizariam 335 votos, muito acima dos 289 necessários.

O partido de extrema direita de Marine Le Pen afirmou que aguardará o discurso de Barnier antes de decidir sobre a sua eventual censura. As condições antecipadas pelo RN são uma reforma do sistema eleitoral e novas legislativas em 2025.

Uma queda rápida de Barnier seria um revés para Macron, que justificou as longas consultas para formar um governo com a busca da “estabilidade institucional”, quase dois meses depois do bloqueio político provocado pelas eleições legislativas.

O presidente provocou uma crise política na França ao antecipar para junho as eleições legislativas que estavam previstas para 2027. A votação deixou a Assembleia Nacional (Câmara Baixa) com três principais blocos, todos distantes da maioria absoluta.

Para demonstrar a complexidade da situação, o governo do primeiro-ministro Gabriel Attal, que Macron pediu para continuar à frente do gabinete durante os Jogos Olímpicos de Paris-2024, está no poder há 51 dias de maneira interina, um recorde na França desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Na França, o primeiro-ministro é nomeado pelo presidente e não precisa ser confirmado no Parlamento. Mas o tempo era curto para Macron, porque o futuro governo deve apresentar os seus orçamentos para 2025 até 1º de outubro, em um contexto de aumento do déficit.

O novo primeiro-ministro deve confirmar se seguirá a recomendação do ministro da Economia em exercício, Bruno Le Maire, de fazer cortes de 16 bilhões de euros (R$ 99 bilhões). O desejo de Macron de manter a reforma da Previdência que impôs por decreto em 2023, e que a NFP prometeu revogar, também pesou na escolha de seu primeiro-ministro.

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