Brasília, 15/11/2024

Operação policial no Complexo de Israel, no Rio de Janeiro, termina com três mortes

Manhã de medo, caos e violência no município do Rio de Janeiro. Confronto entre criminosos e Polícia Militar no Complexo de Israel, que engloba as favelas de Vigário Geral, Parada de Lucas, Cinco Bocas, Pica Pau e Cidade Alta, na zona norte da capital fluminense, terminou com três mortos e outras duas pessoas feridas nesta quinta-feira (24).

Paulo Roberto de Souza, motorista de aplicativo; Renato Oliveira, funcionário de um frigorífico; e Geneilson Eustáquio Ribeiro, motorista de caminhão, foram atingidos por tiros na cabeça enquanto se deslocavam pela avenida Brasil e não sobreviveram. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram motoristas e passageiros de ônibus tentando se proteger do intenso tiroteio em uma das principais vias da cidade.

Por volta das 7h30, a via foi interditada na altura da Cidade Alta nos dois sentidos. Às 8h35, o Centro de Operações da Prefeitura do Rio informou que a capital fluminense entrou no “Estágio 2” do nivelador de risco da cidade, sinalizando ocorrência de alto impacto em função da troca de tiros. O status foi modificado para o “Estágio 1”, de menor risco e manutenção da rotina, às 11h15.

“Saímos e não sabemos se vamos voltar”

O terror também foi sentido por moradores do bairro de Brás de Pina, que acordaram assustados sob intenso tiroteio. Ao Brasil de Fato, uma moradora antiga da região, que prefere não se identificar, relatou que a presença de criminosos montando barricadas nas ruas é frequente e o tiroteio virou rotina.

“Hoje começou por volta de umas 5h, 6h da manhã. Demorou muito para os tiros pararem. Eu estava dormindo, acordei me sentido mal. Brás de Pina está um inferno”, relata.

De acordo com ela, a avenida Antenor Navarro, no bairro Brás de Pina, e a rua Joaquim Monteiro, em Cordovil, estão sob controle de criminosos que abordam carros como se fossem policiais. “Saímos e não sabemos se vamos voltar”, conta a moradora que é nascida e criada no subúrbio carioca.

Nesta quinta-feira, uma casa localizada na rua Joaquim Monteiro foi atingida por uma bala. A cápsula deflagrada foi encontrada por uma moradora na varanda do imóvel.

“Sem inteligência”

Segundo a porta-voz da Polícia Militar (PM), tenente-coronel Claudia Moraes, os policiais encontraram grande resistência dos criminosos que dominam o território do Complexo de Israel.

“Nessa entrada da Polícia Militar [na comunidade], houve forte confronto e os criminosos resolveram atirar na direção das vias [pistas], vindo a vitimar pessoas inocentes que não tinham nada a ver com aquilo”, afirmou.

Além das vítimas, o tiroteio provocou a interrupção do tráfego na avenida Brasil e da circulação de trens, de ônibus e do BRT pela região. Escolas e postos de saúde foram fechados. Segundo a porta-voz da PM, ao perceber as consequências dos confrontos para a população e a circulação na cidade, os policiais decidiram suspender a operação.

“Essa operação começou na Cidade Alta, que é uma área onde você não tem essa reação muito forte. Nós não tínhamos inteligência para sinalizar para essa questão naquele momento”, explicou a tenente-coronel.

Mais de 1.500 tiroteios

Dados do Instituto Fogo Cruzado apontam que, nos últimos oito anos, ao menos 1.528 tiroteios foram mapeados no entorno da avenida Brasil.

Somente em 2024, foram registrados 61 tiroteios nos arredores da via expressa. Em comparação com outras vias expressas, a avenida Brasil teve o maior número de tiroteios no seu entorno neste ano.

Segundo o levantamento, a avenida teve 61 tiroteios no entorno de até 100 metros da via; a Linha Amarela teve 14 tiroteios no entorno de até 100 metros da via; e a Linha Vermelha, 11 tiroteios no mesmo perímetro.

Contabilizando a operação policial desta manhã, o Fogo Cruzado aponta que, somente neste ano, 88 pessoas foram vítimas de balas perdidas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro: 18 morreram e 70 ficaram feridas. (BdF e Agência Brasil)

Castro culpa governo federal

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (foto), disse, nesta quinta-feira (24), que criminosos atiraram intencionalmente contra motoristas e passageiros na Avenida Brasil, depois de uma operação da Polícia Militar no chamado Complexo de Israel, na Zona Norte. A ação teria sido uma estratégia para atrapalhar a movimentação da Polícia Militar na comunidade. Até agora, foram confirmadas três mortes e duas pessoas feridas.

“A inteligência disse que chegamos muito perto do líder da facção. E, para dissipar a polícia, eles resolveram atirar nas pessoas deliberadamente. Como a principal missão da PM é defender as pessoas, tomamos a decisão de recuar naquele momento”, explicou em entrevista.

Ele acrescentou que “essas pessoas não foram vitimadas ou feridas em uma troca de tiros ou confrontos com a polícia. Elas foram assassinadas pelo tráfico de drogas. A polícia estava de um lado e a ordem foi atirar nas pessoas que estavam do outro lado”.

O objetivo declarado da operação policial era combater roubo de veículo e de cargas, além de atender a uma solicitação de empresa telefônica que teve sinal cortado na região.

Sobre o papel da inteligência no planejamento e na operação, Castro disse que a polícia “sabia o que estava fazendo”, mas que a reação do tráfico foi “desproporcional” comparação a outras 15 operações no mesmo local.

O governador do Rio também responsabilizou o governo federal por permitir que armamentos e drogas entrem no estado por meio de portos, aeroportos e estradas federais.

“Não é mais possível que o estado do Rio de Janeiro apreenda só este ano 540 fuzis. Só na minha gestão são 1.770 fuzis. Cinquenta e cinco toneladas de drogas só este ano. Estamos falando aqui de tráfico internacional de armas e de drogas. Lavagem de dinheiro. Isso é competência federal e precisamos da escuta do governo federal para que o nosso trabalho tenha efetividade”, observou. (Agência Brasil)

 

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