Bonny Fonseca – Jornal Opção – O processo eleitoral de 2024 tentou ensinar uma única lição para à extrema-direita, que neste momento é inversa ao convencional. Quem divide não multiplica. E foi assim que o centrão passou por cima da esquerda e da extrema-direita nas urnas em todo o país. O desempenho questionável do maior partido do país mostrou um racha dentro do PL e de partidos mais radicais. O mesmo aconteceu na esquerda onde, ao invés de se construir uma frente ampla, a base de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou vários candidatos em cidades chave para consolidação de força política
O PT e a esquerda são um grande detalhe dentro desse cenário, porque ali dentro a ideia de união é complexa e não há consenso sobre esse assunto e vários outros. Por outro lado, em São Paulo o PL indicou o vice na chapa do prefeito eleito, Ricardo Nunes (MDB), mas ao mesmo tempo ele chegou a flertar com o movimento que Pablo Marçal fez no primeiro turno, mas vendo que o tamanho do ex-coach nas redes e no apelo popular fez o ex-presidente sentir que não tinha controle da narrativa. Ao mesmo tempo, Bolsonaro não fez muito esforço em participar da campanha de Nunes.
Em Curitiba, no Paraná, o PL indicou o vice na chapa do prefeito eleito, Eduardo Pimentel (PSD), que foi o candidato do governador e apoiador de Bolsonaro, Ratinho Júnior (PSD). Indo contra a maré e contra qualquer acordo ou palavra, Bolsonaro declarou apoio a Cristina Graeml (PMB) no segundo turno. A candidata tinha um discurso mais radical e chamou mais a atenção do ex-presidente.
Na política a palavra vale, não é mera conjectura ou demagogia. Não faz sentido o seu partido construir candidaturas em grandes cidades e o principal nome da sigla declarar apoio ao candidato que divide os votos da direita. Bolsonaro, desde 2019, nunca foi bem sucedido em eleições.
Nas eleições municipais de 2020 apenas o prefeito eleito de Rio Branco, no Acre, Tião Bocalom, venceu com o apoio nas capitais.
A lista de derrotas foi longa naquele ano em que ele ocupava o Palácio do Planalto. No Rio de Janeiro ele apoiou a reeleição de Marcelo Crivella (Republicanos) que perdeu para Eduardo Paes (PSD). Em São Paulo, foi o fiador da campanha de Celso Russomanno (Republicanos) que chegou a liderar as pesquisas no começo da campanha, mas terminou o primeiro turno em quarto lugar com 10% dos votos.
Bolsonaro também apoiou as candidaturas de Capitão Wagner, em Fortaleza; Delegado Federal Eguchi, em Belém; Bruno Engler, em Belo Horizonte; Cabo Silveira, Campo Grande; Coronel Alfredo Menezes, em Manaus e Delegada Patrícia, no Recife, e ninguém foi eleito. Ao todo o ex-presidente declarou apoio a 18 candidatos a prefeito pelo país e apenas 5 foram eleitos.
Agora, em 2024 o resultado do partido de Bolsonaro foi melhor, apesar do PL ser oposição ao governo federal, mas ao mesmo tempo, Valdemar da Costa Neto, presidente nacional da legenda, teve que rodar seu vários pratos ao mesmo tempo para tocar as articulações nos municípios.
O osso
Bolsonaro não quer largar o osso do protagonismo político, mas ele sabe que não é mais o número 1 da direita, existem outros que o desafiam, mas o nome Bolsonaro ainda pesa junto ao eleitorado brasileiro.
O ex-presidente e Lula são muito parecidos nesse aspecto. Nenhum dos dois se interessou, viu a necessidade ou então se preocupou com a construção de um projeto de país formando novos líderes políticos que ocupem o poder e deem continuidade ao projeto da esquerda ou da direita para o Brasil.
Em 2018 Lula estava preso na sede da Polícia Federal, em Curitiba, e manteve a sua candidatura até o momento em que ela se tornasse totalmente inviável. O resultado disso tudo é que Fernando Haddad (PT) acabou sendo o candidato do partido e perdeu para Bolsonaro naquele ano. Tanto Lula quanto o PT sempre tiveram que ser protagonistas da política e foi aí que surgiu o que chamam hoje de bolsonarismo.
Do outro lado da ponte está Bolsonaro e a extrema-direita. Aqui acontece o mesmo fenômeno. Em 2023 Jair Bolsonaro foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A decisão foi baseada no abuso de poder político e no uso indevido dos meios de comunicação. O ex-presidente usou uma reunião com embaixadores, na qual Bolsonaro fez acusações sem provas contra o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas, descredibilizando o processo e favorecendo sua candidatura à reeleição em 2022. Ele também foi condenado pelo uso indevido das comemorações do bicentenário da independência do Brasil para fins eleitorais. A decisão o impede de concorrer a qualquer cargo eletivo pelo período de oito anos.
Bolsonaro ainda tem outro problema nas costas que pode aumentar ainda mais o seu tempo fora da vida política. Ele é investigado por envolvimento nos atos terroristas de 8 de Janeiro de 2023 e também sobre uma tentativa de golpe articulada na alta cúpula do governo.
Apesar de toda essa trama, Bolsonaro fala constantemente que será candidato em 2026. Esse é o achaque da inteligência humana. Bolsonaro não pode ser candidato a presidente nas próximas eleições, nem por revisão de decisão e muito menos por intervenção internacional de outro país ou presidente.
O advogado Marlon Reis, um dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa, disse à jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, considera improvável que Bolsonaro deixe de ser inelegível até 2026. Essa possibilidade está totalmente dependente de alteração legislativa”, diz.
Ele afirma ainda que a inelegibilidade de Bolsonaro é resultado direto da Lei da Ficha Limpa, que deixou explícita no texto a possibilidade de punição mesmo para candidatos derrotados nas eleições. Antes, segundo ele, o mais comum era que esses casos terminassem engavetados.
Na pesquisa CNT/MDA divulgada na terça-feira,12, mostra como Lula e Bolsonaro obstruem o cenário eleitoral nacional. O levantamento mostra Lula na liderança para disputa em 2026 com 27,4%. O ex-presidente tem 20,4%.
Em seguida aparecem o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) com 1,8%, Pablo Marçal (PRTB) tem 1,4%, e a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB) tem 1,1%. Este é o resultado da pesquisa espontânea onde os nomes selecionados para a pesquisa não são apresentados aos entrevistados.
Durante a campanha para à Prefeitura de Goiânia, Bolsonaro veio várias vezes à cidade para atos em prol do seu candidato, Fred Rodrigues (PL), mas suas visitas e discursos eram cercados de falas nacionalizadas e ataques ao governador Ronaldo Caiado (UB). Em um comício realizado no Parque Flamboyant, Bolsonaro chegou a desdenhar do governador por querer ser candidato a presidente em 2026. “Não existe caiadismo no Brasil, mas existe bolsonarismo”, afirmou o ex-presidente.
Do alto de sua arrogância, Bolsonaro e seu clã perdem cada dia mais a liderança da direita e deixam de ser o protagonista, mesmo contra a vontade. Caiado é um dos governadores mais bem avaliados do país. Assumiu o estado em 2019 com uma dívida gigantesca com a União, folha de pagamentos dos servidores atrasada. Atualmente o estado é um dos que mais cresce no Brasil. O Produto Interno Bruto (PIB) goiano cresce em “ritmo chinês” com médias acima de 4% ao ano e sempre mantendo o dobro da média nacional.
Goiás é uma excelente vitrine política para o Brasil, Caiado tem explorado seu trabalho com maestria na imprensa nacional. Bolsonaro, soube muito bem dividir a direita e perder as eleições na cidade em que teve uma votação expressiva. Achou que poderia fazer o que quisesse nessas eleições, mas em Goiânia o ex-presidente não se prestou a mensurar a força política de Caiado.
Bolsonaro se mostra um veneno para opositores e aliados. O seu próprio afilhado político, Tarcísio, candidato natural à presidência em 2026 aparece no levantamento descrito acima com índice irrelevante no cenário nacional. A construção de um novo nome para direita tem que ser agora, o mesmo recado serve para a esquerda.
Ninguém segura o processo eleitoral e quem tentar segurá-lo vai ser arrastado e não mais sobreviverá à maré do sistema.