A Justiça do Amazonas condenou nesta terça-feira (17) Ademar e Cleusimar Cardoso, irmão e mãe da ex-sinhazinha Djidja Cardoso, além de outras cinco pessoas, por tráfico de drogas e associação para o tráfico. Djidja foi encontrada morta no final de maio em Manaus, e a principal linha de investigação da polícia aponta para uma possível overdose de cetamina como causa da morte. O laudo oficial, no entanto, ainda não foi divulgado pelo Instituto Médico Legal (IML). Informações de Matheus Castro, g1 AM.
Após seis meses da denúncia do Ministério Público, o juiz Celso de Paula, da 3ª Vara de Delitos de Tráfico de Drogas do Amazonas (VDTD), condenou a mãe e o irmão de Djidja, além do ex-namorado da vítima, Bruno Roberto, dois comerciantes suspeitos de fornecer cetamina, um coach que se passava por personal da família e uma gerente da rede de salões de beleza da ex-sinhazinha.
- Cleusimar Cardoso Rodrigues (mãe de Djidja): condenada por tráfico de drogas e associação para o tráfico – total das penas: 10 anos, 11 meses e 8 dias de reclusão;
- Ademar Farias Cardoso Neto (irmão de Djidja): condenado por tráfico de drogas e associação para o tráfico – total das penas: 10 anos, 11 meses e 8 dias de reclusão;
- José Máximo Silva de Oliveira (dono de uma clínica veterinária que fornecia a cetamina): condenado por tráfico de drogas e associação para o tráfico – total das penas: 10 anos, 11 meses e 8 dias de reclusão;
- Sávio Soares Pereira (sócio de José Máximo na clínica veterinária): condenado por tráfico de drogas e associação para o tráfico – total das penas: 10 anos, 11 meses e 8 dias de reclusão;
- Hatus Moraes Silveira (coach que se passava por personal da família de Djidja): condenado por tráfico de drogas e associação pra o tráfico – total das penas: 10 anos, 11 meses e 8 dias de reclusão;
- Verônica da Costa Seixas (gerente de uma rede de salões de beleza da família de Djidja): condenada por tráfico de drogas e associação para o tráfico – total das penas: 10 anos, 11 meses e 8 dias de reclusão;
- Bruno Roberto da Silva Lima (ex-namorado de Djidja): também condenado por tráfico de drogas e associação para o tráfico – total das penas: 10 anos, 11 meses e 8 dias de reclusão.
De acordo com a investigação da polícia, a família de Djidja fundou o grupo religioso “Pai, Mãe, Vida”, que promovia o uso indiscriminado da droga sintética, conhecida por causar alucinações e dependência. Além da mãe e do irmão de Djidja, estão presos um coach, o proprietário e o sócio de uma clínica veterinária suspeita de fornecer a substância ao grupo.
Em junho, o Ministério Público, representado pelo promotor André Virgílio Betola Seffair, denunciou o grupo por tráfico de drogas e associação para o tráfico. Na denúncia, Seffair afirmou que Cleusimar Cardoso, mãe de Djidja, estava no núcleo central do esquema de tráfico de entorpecentes.
O juiz Celso de Paula explicou que a versão apresentada pelos réus no tribunal, tentando se livrar da responsabilidade pelo tráfico de drogas, estava completamente em desacordo com os depoimentos das testemunhas. Por isso, essa a foi considerada sem fundamento e não foi levada em conta, pois não havia provas que a sustentassem.
Dos sete condenados, apenas Verônica e Bruno Roberto – que estão em liberdade provisória – poderão recorrer em liberdade. Já os demais, vão cumprir suas penas no regime fechado, conforme a sentença judicial.
O juiz também absolveu por insuficiência de provas os réus Emicley Araujo Freitas Júnior, ex-funcionário da clínica que fornecia a droga, Claudiele Santos da Silva e Marlisson Vasconcelos Dantas, ex-funcionários do salão de beleza da ex-sinhazinha.
A sentença trata exclusivamente dos crimes de tráfico de drogas e associação para o tráfico. Já os crimes de charlatanismo, curandeirismo, manipulação e adulteração de medicamentos, estupro e outros serão desmembrados e encaminhados às varas competentes para investigação.
Causa da morte de Djidja
Djidja, que foi uma das principais atrações do Festival de Parintins por cinco anos, foi encontrada morta no dia 28 de maio. O laudo preliminar do Instituto Médico Legal (IML) indica que a morte da ex-sinhazinha foi causada por um edema cerebral, que comprometeu o funcionamento do coração e da respiração.
No entanto, o laudo não esclarece o que teria provocado o quadro. A principal linha de investigação da polícia aponta para a possibilidade de uma overdose de cetamina como causa da morte.
De acordo com as investigações, o corpo de Djidja foi encontrado pelos policiais com sinais de overdose e indícios do uso da substância injetável. No dia da morte de Djidja, a polícia também encontrou frascos de cetamina enterrados no quintal da casa dela, além de caixas da droga, seringas, frascos, bulas e cartelas de remédios na lixeira da propriedade.
Conforme a polícia, o irmão de Djidja Cardoso, Ademar Farias, introduziu a cetamina na família após ter tido contato com a droga durante uma viagem a Londres, onde buscava tratamento contra dependência química. Posteriormente, ele e os demais membros da família criaram o grupo religioso “Pai, Mãe, Vida”.
Durante a apuração do caso, a Polícia Civil identificou que o grupo realizava rituais nos quais promoviam o uso indiscriminado de cetamina, uma droga sintética utilizada tanto em humanos quanto em animais. Para pessoas, a cetamina é usada como anestésico, analgésico e, em alguns casos, no tratamento da depressão. Embora seu uso recreativo seja comum, ele é ilegal desde 1980.
As investigações indicaram, ainda, que algumas vítimas do grupo foram submetidas a violência sexual e aborto.
O grupo liderado pela mãe e pelo irmão de Djidja Cardoso acreditava que Ademar (irmão) era Jesus Cristo, Cleusimar (mãe) era Maria, e Djidja seria Maria Madalena. Eles defendiam o uso de cetamina como meio para alcançar a elevação espiritual.
Os rituais aconteciam principalmente nos salões de beleza e na residência da família, onde foram encontradas ampolas de cetamina, seringas e agulhas.
Ademar se apresentava nas redes sociais como um “guru” que ajudava as pessoas a “sair da Matrix” e alcançar um “plano superior”. Ele e a mãe tinham o nome do grupo tatuado.
Ademar e Claudimar exibem tatuagens com nome do grupo religioso — Foto: Divulgação
A Polícia Civil, através da Operação Mandrágora, prendeu cinco membros do grupo e apreendeu centenas de seringas, agulhas, cetamina e outros materiais nas residências e em uma clínica veterinária associada ao grupo.
No dia 8 de junho, José Máximo de Oliveira, proprietário da clínica veterinária acusada de fornecer cetamina para a família de Djidja Cardoso, se entregou no 1º Distrito Integrado de Polícia (DIP), em Manaus. Ele teve o mandado de prisão decretado após ser intimado três vezes a depor e não comparecer em nenhuma das ocasiões.
Durante a segunda fase da operação, a polícia cumpriu mandados de busca e apreensão em três clínicas veterinárias e petshops, incluindo a de José Máximo, informou o delegado responsável pelo caso. Em um dos estabelecimentos, foi encontrado o anabolizante potenay, também utilizado pela família durante os rituais de elevação espiritual.
Inquérito
O g1 teve acesso ao inquérito do caso, que estava em sigilo de Justiça durante as investigações, e descreve que Djidja sofria torturas físicas da própria mãe.
O documento apresentou novos depoimentos de testemunhas do caso, entre eles o da empegada doméstica que trabalhava na casa da família Cardoso desde 2022.
À polícia, a mulher contou que Cleusimar Cardoso tinha um comportamento agressivo e que por muitas vezes machucava Djidja, como por exemplo, “assanhar” os cabelos, beliscá-la e torcer seu braço.
A dependência química de Djidja já era conhecimento de outros familiares, que denunciaram o caso à polícia um ano antes da morte da ex-sinhazinha. Conforme o registro, uma familiar contou que a empresária não podia receber visitas e nem sair de casa, pois se encontrava sempre sob efeito da droga.