Lorenzo Santiago – Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, derrubou nesta quarta-feira (29) o Status de Proteção Temporal (TPS, na sigla em inglês) para venezuelanos. A medida garantia que os migrantes venezuelanos poderiam morar e trabalhar no país até outubro de 2026. A decisão do republicano deve atingir mais de 600 mil pessoas, que poderão ser deportadas.
A informação foi confirmada pela secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, em entrevista à Fox News. Segundo ela, a meta do governo é manter essa política migratória durante o mandato de Trump. “Vamos acompanhar o processo, avaliar todas essas pessoas que estão em nosso país, inclusive os venezuelanos que estão aqui”, disse. Ela também criticou o ex-secretário de Segurança Interna dos Estados Unidos, Alejandro Mayorkas.
“Antes de deixar a cidade, Mayorkas assinou uma ordem que dizia que, durante 18 meses, a proteção seria estendida às pessoas com Status de Proteção Temporária (TPS), o que significava que elas poderiam ficar aqui e violar nossas leis por mais 18 meses, e paramos com isso.”
A secretária afirmou também que a Casa Branca continua negociando com os governos de outros países para viabilizar as deportações. Ela também indicou que Trump vai exercer “toda a autoridade e poder que tem para fazer com que estes países as aceitem”.
O governo de Nicolás Maduro já havia dito que receberia os migrantes venezuelanos que serão deportados. A Venezuela ainda não recebeu nenhum voo com deportados. Segundo o presidente venezuelano, a ideia é receber e dar oportunidade aos venezuelanos que voltarão ao país.
“Queremos que eles voltem. Se eles não os querem lá, nós os amamos, com amor, e abrimos os braços. Dizemos aos nossos migrantes: ‘Queremos que voltem’. Queremos que eles voltem para que possam ser felizes aqui, para que possam vir empreender, trabalhar, construir na sua terra”, disse o presidente.
O assessor de Trump, Stephen Miller, reforçou que a Casa Branca tem a expectativa de que a Venezuela receba os deportados sem colocar barreiras.
O TPS havia sido renovado pelo governo de Joe Biden uma semana antes de ele deixar o cargo. De acordo com Trump, ao menos 11 milhões de estrangeiros vivem nos Estados Unidos de maneira irregular. A meta do republicano é deportar todos eles durante os seus 4 anos de mandato.
Os números de deportados desde que Trump assumiu não foram divulgados, mas alguns países já receberam pessoas que deixaram os Estados Unidos em voos militares. Na última sexta-feira (24), 88 brasileiros chegaram a Manaus vindos dos Estados Unidos. O governo brasileiro questionou o tratamento dado aos deportados, que viajaram algemados e tiveram problemas com alimentação e agressões no voo.
Já o governo do colombiano Gustavo Petro bateu de frente com Trump. Em um primeiro momento, o mandatário insistiu que não aceitaria esse tipo de política. O republicano ordenou uma tarifa de 25% sobre todos os produtos importados da Colômbia, que aumentaria para 50% em apenas uma semana, e a embaixada dos EUA em Bogotá também suspendeu a emissão de vistos.
Momentos depois, Petro também ameaçou aplicar uma tarifa de 25% nas importações dos EUA e publicou um texto em suas redes sociais saindo em defesa da Colômbia. Os dois chegaram a um acordo para que os colombianos voltassem ao país e que as medidas não seriam aplicadas a produtos de nenhum país.
Mesmo assinando o TPS, o governo de Biden também foi responsável pela deportação de milhares de migrantes. Segundo o Serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE) dos EUA, só em 2024 foram deportadas 271.484 pessoas, a maior quantidade em um ano desde 2019. Nos últimos 6 meses, foram cerca de 126 voos de deportação por mês, o que representa cerca de 3.500 pessoas deportadas anualmente.
Migrantes venezuelanos
A Venezuela sofreu um fluxo migratório nos últimos anos devido às sanções aplicadas pelos Estados Unidos e União Europeia contra o país. O número, no entanto, é motivo de discórdia. Organismos internacionais estimam que cerca de 7 milhões de venezuelanos deixaram o país, em uma diáspora que começou com a crise promovida pelo bloqueio, mas o dado é contestado por institutos que pesquisam o tema.
A ONG venezuelana Sures, por exemplo, estima que esse número é bem menor e gira em torno dos 4,5 milhões. “O dado continua sendo relevante, é uma saída importante de venezuelanos, nós não questionamos isso. A questão é o rigor metodológico para essa contagem”, afirma Luis Ernesto Navas, pesquisador do Sures, ao Brasil de Fato.
A falta de critério neste levantamento diz respeito à forma como foi feita essa contagem. O grupo indica que foram contabilizadas todas as saídas do país em um período de 3 a 5 anos. De acordo com Navas, essa forma não representa o que os especialistas consideram “saldo migratório”. Esse conceito calcula não só a saída, mas a diferença entre a população que deixou um país e a população que entrou naquele território.
Ou seja, é preciso calcular o número de pessoas que saíram menos o número de pessoas que entrou. De acordo com Navas, o primeiro ponto é que os cálculos dos organismos internacionais não medem essa relação. Dessa forma, foi contabilizado como saída o movimento de trabalhadores venezuelanos que vivem na fronteira e vão trabalhar no Brasil, mas retornam para suas casas no final da tarde ou nos finais de semana.
O governo de Maduro afirma que mais de 1 milhão de venezuelanos já voltaram de forma deliberada, pela melhora das condições da Venezuela.