A revista The Atlantic publicou nesta quarta-feira (26) o texto completo de um grupo de bate-papo que apresentava planos de um ataque iminente dos Estados Unidos ao Iêmen, compartilhado por engano com um jornalista por altos funcionários da segurança nacional dos Estados Unidos.
A série de bombardeios na madrugada de 16 de março que resultaram na morte de pelo menos 24 pessoas e deixaram outras 23 feridas foram condenados pelo grupo revolucionário houthis, que classificou a ação como “crime de guerra”.
Os detalhes do plano, que incluem os horários dos ataques e os tipos de aviões usados, foram publicados com as imagens das capturas de tela do bate-papo no aplicativo de mensagens Signal. As mensagens de texto foram enviadas apenas meia hora antes da decolagem dos primeiros aviões de guerra dos EUA e duas horas antes da previsão de bombardeio do primeiro alvo, descrito como “Alvo Terrorista”.
“1410: Mais F-18s lançam (2º pacote de ataque)”, escreve o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth em um determinado momento.
“1415: Drones de ataque no alvo (é nesse momento que as primeiras bombas definitivamente cairão, enquanto se aguarda os alvos anteriores ‘baseados em gatilho’).”
Pouco tempo depois, o conselheiro de segurança nacional de Trump, Mike Waltz, enviou informações em tempo real sobre as consequências de um ataque, escrevendo: “O prédio desabou. Tivemos várias identificações positivas” e “trabalho incrível”.
Os rebeldes huthis, que controlam grande parte do Iêmen há mais de uma década, fazem parte do “eixo de resistência” de grupos pró-Irã que se opõem firmemente a Israel e aos EUA. Os houthis voltaram a atacar embarcações no Mar Vermelho ligadas a Israel como retaliação ao bloqueio imposto pelo governo israelense ao fornecimento de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, interrompido no início de março. O governo Trump intensificou os ataques contra o grupo em resposta aos ataques no estratégico Mar Vermelho.
Que mico
A história do vazamento foi divulgada pela primeira vez na segunda-feira, quando o jornalista da Atlantic, Jeffrey Goldberg, recebeu informações no chat do Signal sobre ataques iminentes contra os rebeldes huthi em 15 de março. Por razões desconhecidas, o número de telefone de Goldberg foi adicionado ao grupo, que também incluía o diretor da Central Intelligence Agency ( CIA, o serviço secreto dos EUA), John Ratcliffe, entre outros. Goldberg também revelou comentários depreciativos feitos pelas principais autoridades dos EUA sobre aliados europeus durante o bate-papo.
Inicialmente, a Atlantic não publicou os detalhes precisos do bate-papo, dizendo que queria evitar a revelação de material confidencial e informações que poderiam colocar em risco as tropas americanas. Mas, na terça-feira, Ratcliff e outras autoridades envolvidas no bate-papo minimizaram o escândalo, testemunhando perante o Congresso que nada crítico havia sido compartilhado ou leis violadas – e que nada discutido era confidencial.
O próprio Trump descartou a violação como uma “falha” e disse que não havia “nenhuma informação confidencial” envolvida. Na quarta-feira, a Atlantic questionou o governo se, nesse caso, haveria algum problema em publicar o restante do material. Não obteve nenhuma indicação firme em contrário. A Atlantic disse que sua publicação completa desta quarta inclui a íntegra das conversas, exceto um nome da CIA que a agência havia pedido para não ser revelado.
A discussão do texto inclui Hegseth descrevendo as condições climáticas, os horários dos ataques e os tipos de aeronaves que estavam sendo usadas.
Democratas pressionam governo Trump
O escândalo abalou o governo do republicano, que passou a atacar a The Atlantic, negando qualquer irregularidade. Após o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Brian Hughes, dizer na segunda-feira que a conversa citada pela revista parecia ser “autêntica, o vice-presidente JD Vance, que estava no chat do Signal, disse que a publicação havia “exagerado” na história, enquanto a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que “toda a história era outra farsa”.
O conselheiro de segurança nacional Mike Waltz também insistiu no X que o grupo do Signal não revelou “nenhum local” e “nenhum plano de guerra”.
A profundidade dos detalhes na conversa agora publicada dá mais munição para um protesto furioso dos democratas no Congresso, que estão acusando as autoridades de Trump de incompetência e de colocar as operações militares dos EUA em perigo. A Câmara dos Representantes foi marcada para discutir o escândalo em uma audiência na quarta-feira. (Brasil de Fato)