Brasília, 02/10/2024

Brasília, 02/10/2024

Aliança de Marta a Boulos pode definir futuro da esquerda brasileira

A aliança entre Marta Suplicy (sem partido) e Guilherme Boulos (PSOL-SP) na disputa pela prefeitura de São Paulo pode ajudar a definir o futuro da esquerda brasileira como um todo, segundo análise de especialistas ouvidos pela reportagem.

Nesta semana,  Marta aceitou regressar ao Partido dos Trabalhadores (PT) e se tornar candidata a vice-prefeita de São Paulo na chapa liderada por Boulos. A união, que foi discutida entre os dois envolvidos em encontro neste sábado  (13), representa uma força extra para a campanha do psolista, que  já lidera as pesquisas de intenções de voto da capital paulista.

Se a chapa sair vitoriosa, Boulos deve ganhar ainda mais projeção nacional, se tornando um nome mais forte na esquerda brasileira, capaz de ocupar o espaço que deve ser deixado por Lula no cenário político nos próximos anos.

Marta pode puxar votos

De volta ao PT, Marta é capaz de trazer votos para a chapa, auxiliando na vitória de Boulos. A futura candidata a vice-prefeita já foi prefeita de São Paulo entre 2001 e 2004, mandato que encerrou com com 49% de aprovação, de acordo com pesquisa Datafolha divulgada na ocasião. À época, 61% dos eleitores paulistanos achavam que a cidade estava melhor do que antes de Marta assumir.

Foi na gestão de Marta que a cidade alcançou alguns feitos importantes, como a implementação do Bilhete Único e a criação dos Centros Educacionais Unificados (CEUs). “A Marta agrega nessa chapa com o Boulos fazendo com que os votos da periferia, onde ela tem uma boa interlocução, se dispersem menos. É uma tentativa de impedir que esses votos vão para outros candidatos”, analisa Glauco Peres, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP).

A possibilidade de Marta levar votos para outros candidatos já ocorreu anteriormente. Nas últimas eleições paulistanas, em 2020, ela desistiu da sua pré-candidatura e se desfiliou do Solidariedade para apoiar o então candidato Bruno Covas, do PSDB. Depois da vitória de Covas, Marta assumiu a Secretaria de Relações Internacionais do município, cargo que ocupou até a última semana, quando  foi exonerada para entrar na chapa de Boulos.

Desde que saiu do PT, em 2015, em meio à Operação Lava Jato, Marta passou pelo MDB e pelo Solidariedade, e trilhou caminhos contrários ao partido ao qual deve voltar agora. Em 2016, enquanto senadora, votou pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff; em 2018, durante as eleições presidenciais, chamou o então candidato petista e atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de “o pior prefeito” da história de São Paulo.

“Marta ainda tem capacidade de mobilização de voto, é um nome lembrado e conhecido. Ela fazer parte do outro time era ruim para a esquerda, então o PT reconheceu isso e trouxe ela para ocupar esse lugar na chapa com Boulos”, comenta Glauco.

Agora, Marta deve voltar ao PT depois de uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, realizada na última semana. Além de trazer votos para a chapa liderada por Boulos, ela também tem o que críticos dizem faltar no psolista: experiência na administração pública. “Ter a Marta como vice na chapa é espécie de vacina, tentando desconstruir previamente as críticas que, porventura, poderiam ser feitas ao Boulos sobre falta de experiência no Executivo”, comenta Rodrigo Prando, professor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

A política pós-Lula

Com boas chances de vencer as eleições na capital paulista, a chapa fruto da aliança entre Marta e Boulos pode não apenas definir os rumos da cidade, mas também da política brasileira como um todo, analisam os especialistas.

O apoio do PT a Boulos nessas eleições é fruto de um compromisso assumido ainda em 2022 pelo partido, quando o psolista não concorreu à presidência da República, apoiando Lula e evitando uma divisão de votos da esquerda na disputa acirrada contra Jair Bolsonaro (PL).

Tags

Gostou? Compartilhe!

Leia mais