
O desmatamento no bioma teve um aumento de 68% no mês de janeiro em comparação com o mesmo mês de 2024 – Christian Braga / Greenpeace
O desmatamento na Amazônia teve um aumento de 68% no mês de janeiro, em comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Entre os estados que mais derrubaram a floresta, o Mato Grosso lidera a lista, sendo responsável por 45% da devastação no período. Em segundo lugar, está Roraima, responsável por 23% do desmatamento e, em terceiro, o Pará, com 20%.
Dos dez municípios que mais desmataram o bioma, seis são mato-grossenses: Juína, Nova Maringá, Feliz Natal, Porto dos Gaúchos, Aripuanã e Tabaporã. Desses, cinco têm prefeitos fazendeiros, de acordo com as declarações de bens apresentadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Já a prefeita de Aripuanã, Seluir Peixer Reghin (União), informou à Justiça Eleitoral não ter bens em seu nome.
Juína, Nova Maringá, Feliz Natal, Porto dos Gaúchos e Aripuanã estão na lista dos 81 municípios que mais desmatam a Amazônia, dentro do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o PPCDAm foi o principal responsável pela queda de 83% do desmatamento de 2004 a 2012. O programa estabelece o compromisso de alcançar o desmatamento zero até 2030.
Juína e Nova Maringá são os municípios mato-grossenses que mais perderam área de floresta em janeiro de 2025, com 800 hectares derrubados em cada um desses lugares. Em Feliz Natal, a área derrubada foi de 600 hectares e, em Porto dos Gaúchos, 500 hectares, aproximadamente. Aripuanã e Tabaporã perderam, em um mês, cerca de 400 hectares de floresta cada.
O Mato Grosso é o estado com a maior produção de soja do Brasil e destaca-se também pela extensa área de pastagem. Embora o estado tenha mais representação no ranking do Imazon, o primeiro lugar da lista é o município de Amajari (RR), que perdeu uma área de floresta de quase 1,2 mil hectares.
Para Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon, os números do desmatamento no bioma evidenciam uma crescente pressão sobre a Amazônia e servem como um sinal de alerta para a necessidade de fortalecer as ações de monitoramento na região. “Para reverter esse cenário, é fundamental intensificar a fiscalização, ampliar as operações de combate aos crimes ambientais e fortalecer políticas que incentivem a proteção e o uso sustentável da floresta”, afirma.
Prefeitos fazendeiros
Com exceção de Aripuanã, os municípios mato-grossenses mais desmatados têm na chefia do executivo pessoas cujo patrimônio milionário inclui fazendas.
Em 2024, a prefeitura de Feliz Natal aderiu ao Programa União com Municípios pela Redução do Desmatamento e Incêndios Florestais na Amazônia, que prevê investimentos de R$ 785 milhões para promover o desenvolvimento sustentável e combater o desmatamento e incêndios florestais.
Embora seja signatário do programa, o prefeito de Feliz Natal, Toni Dubiella (MDB), tem o nome cadastrado no sistema do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) por danificar mais de 260 hectares de floresta amazônica no município de Nova Ubiratã (MT), onde tem duas fazendas.
Dono de uma madeireira, ele também foi multado por ter no depósito da empresa madeira extraída de árvores de espécies protegidas, como cedro e sucupira. As multas foram aplicadas em 2015 e, juntas, ultrapassam R$ 1,3 milhão, valor que ainda não foi pago, porque os processos continuam em tramitação na Justiça.
Segundo a declaração de bens apresentada à Justiça Eleitoral para as eleições municipais de 2024, o patrimônio de Dubiella ultrapassa os R$ 12 milhões e inclui, além de terras, investimentos e veículos terrestres, uma pequena aeronave.
Entre os municípios do Mato Grosso que lideraram o desmatamento da Amazônia em janeiro de 2025, somente Tabaporã fica de fora da lista do MMA. A cidade, no entanto, não foge ao padrão recorrente no estado de ter prefeitos fazendeiros. Estreante na política, Carlos Eduardo Borchardt (PL) foi eleito com 53% dos votos em seu primeiro pleito, em 2024.
Mais rico entre os seis prefeitos da lista apresentada pelo Imazon, ele acumula um patrimônio que ultrapassa os R$ 135 milhões. A fortuna é composta por fazendas, terrenos, veículos e maquinários agrícola.
Somente a prefeita Seluix Pexier foge à regra dos gestores ruralistas. Nas eleições de 2020 e 2024 ela informou ao TSE não ter bens em seu nome. Em 2016, no entanto, quando concorreu à prefeitura pela primeira vez, ela declarou um patrimônio de R$ 800 mil, que incluía 200 cabeças de gado bovino.
Programa União com Municípios
Podem participar do programa União com Municípios as prefeituras dos 81 municípios que mais desmatam a Amazônia, dentro do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm).
A lista de municípios monitorados pelo Ministério do Meio Ambiente é atualizada anualmente e, em 2024, contava com 70 localidades.
As prefeituras de Juína, Nova Maringá e Aripuanã optaram por não aderir ao programa de compromisso de redução de desmatamento. Porto dos Gaúchos não estava na lista quando o programa União com Municípios foi lançado, em abril de 2024.
Em nota, o MMA afirma que o período oficialmente considerado pelo Ministério de Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) para definição de taxa de desmatamento é de 1o de agosto a 31 de julho do ano subsequente. O ministério não considera dados mensais isolados que por motivo de cobertura de nuvens não revela tendências. Considerando esse período de 1º de agosto até o presente (24 de fevereiro) o dado do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indica queda de 8% em relação ao mesmo período de 2024.
O Brasil de Fato entrou em contato com as prefeituras dos municípios mato-grossenses que mais desmataram a Amazônia, mas não teve retorno até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.
*Texto atualizado às 10h40 do dia 27/02 para inserção de posicionamento Ministério do Meio Ambiente.