Após um intercâmbio de declarações no fim de semana, a presidenta do México, Claudia Sheinbaum, afirmou nesta segunda-feira (5), durante sua tradicional coletiva de imprensa que não deseja que a comunicação entre os governos do México e dos Estados Unidos ocorra por meio da imprensa.
“Eu não gostaria que a comunicação entre o presidente Trump e esta que vos fala, entre os Estados Unidos e o México, acontecesse por meio da mídia e de declarações públicas”, afirmou.
Ao ser questionada sobre as declarações feitas no domingo por Donald Trump — em que o presidente dos EUA disse que “a presidenta do México é uma mulher adorável, mas tem tanto medo dos cartéis que nem consegue pensar com clareza” — Sheinbaum respondeu destacando que, até agora, o diálogo entre ambos tem sido respeitoso. “Em pouco mais de três meses do governo dele, já tivemos mais de cinco ligações. A comunicação tem sido boa”, disse.
Sheinbaum insistiu na importância de manter um diálogo direto e contínuo entre os dois países, evitando ruído públicos. “É uma comunicação fluida, boa, com muitos acordos e outros pontos em que ainda não há consenso, mas seguimos dialogando permanentemente, o que é algo natural.”
Nesse contexto, ela reiterou a rejeição categórica do México a qualquer presença militar estrangeira em seu território. “Podemos colaborar em muitas áreas, mas sempre dentro dos marcos da nossa soberania e da territorialidade que cabe a cada nação”, enfatizou.
A presidenta também lembrou que o México vem intensificando seus esforços para conter o tráfico de drogas. “Estamos trabalhando arduamente para reduzir e conter o tráfico de fentanil e outras drogas do México para os Estados Unidos.”
Ela destacou ainda como avanço o recente anúncio do governo dos EUA de que pretende reforçar o combate ao tráfico de armas para o México. “Os Estados Unidos anunciaram recentemente uma política de tolerância zero com o tráfico de armas para o nosso país.”
“A soberania não está à venda. Ela se ama e se defende”, declarou Sheinbaum.
No sábado (3), durante a inauguração da Universidade para o Bem-Estar no Parque Ecológico Lago de Texcoco, no Estado do México, a presidenta revelou que rejeitou proposta feita por Trump por telefone, na qual o presidente estadunidense sugeria enviar tropas dos EUA para colaborar diretamente no combate ao crime organizado em território mexicano. A resposta da presidenta foi firme: “Não, presidente Trump. O território é inviolável. A soberania não está à venda. A soberania se ama e se defende”.
Reafirmando que o México está disposto a cooperar no combate ao tráfico de drogas, Sheinbaum pontuou: “Podemos trabalhar juntos, podemos compartilhar informações, mas vocês em seu território e nós no nosso. Jamais aceitaremos a presença do exército norte-americano no México.”
As declarações vieram após a publicação de uma reportagem do Wall Street Journal, que revelou detalhes de uma ligação de 45 minutos entre os dois mandatários. O diálogo abordou temas sensíveis como segurança na fronteira, comércio e migração, e teria ocorrido em um momento de tensão diplomática entre os países.
Segundo Sheinbaum, a proposta de Trump não foi imposição, mas sugestão. “Ele me perguntou: ‘Como podemos ajudá-los a combater o narcotráfico? Proponho que enviemos tropas americanas para apoiá-los.’”
Tensões e negociações
Na semana passada, a Casa Branca anunciou que não imporia tarifas ao setor automotivo mexicano — notícia recebida com alívio por ser um dos pilares da economia do país. Paralelamente, Trump e a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, instruíram as agências estadunidenses a reforçar o combate ao tráfico de armas para o México.
Essa medida atende demanda histórica do governo mexicano, que há anos denuncia o fluxo de armamento vindo dos EUA como um dos principais fatores que alimentam o poder dos cartéis. Ainda assim, desde o retorno de Trump à Casa Branca, a relação bilateral tem sido marcada por constantes tensões e negociações.
As reiteradas ameaças de impor tarifas aos produtos mexicanos consolidaram-se como ferramenta de pressão diplomática. Essa estratégia ganha ainda mais peso considerando que os Estados Unidos são o principal parceiro comercial do México, absorvendo cerca de 80% de suas exportações, no âmbito do acordo de livre comércio que também inclui o Canadá.
Embora o México tenha conseguido evitar a imposição de tarifas, isso se deu ao custo de um aumento significativo da presença das forças armadas na fronteira norte. Como parte dos compromissos assumidos, o país enviou até 10 mil agentes da Guarda Nacional para conter a migração irregular.
Apesar das mesas de negociação em andamento, a ameaça de uma possível intervenção militar dos EUA paira sobre os discursos e gestos da Casa Branca — o que se torna ainda mais preocupante diante da atual política externa estadunidense, que inclui o envio de tropas a países como o Panamá.
A recente designação dos cartéis mexicanos como organizações terroristas pelos EUA acendeu um alerta vermelho no México. Especialistas alertam que essa classificação pode abrir espaço para ações unilaterais sob o pretexto de “combate ao terrorismo”. (Brasil de Fato)