Adele Robichez e Kaique Santos – Brasil de Fato
A deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP) comparou o processo de cassação contra Glauber Braga (Psol-RJ) com a inércia da Câmara diante do caso de Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de mandar matar Marielle Franco. Enquanto Brazão segue em prisão domiciliar, com o mandato mantido, o processo contra Glauber foi aprovado no Conselho de Ética e pode ser votado em plenário nos próximos dias.
“É impressionante a leniência da Câmara com Brazão. Ele continua deputado, com salário, gabinete, assessores… Vou estranhar muito se o presidente Hugo Motta colocar para votar imediatamente o caso de Glauber. Se com Brazão já tem um ano, o que explica que, no caso de Glauber, sejam semanas, senão uma perseguição, vontade de calar e cassar um deputado de esquerda combativo, que defende a classe trabalhadora no Brasil?”, questionou Sâmia em entrevista ao programa Conexão BdF, do Brasil de Fato, nesta terça-feira (15).
Em seu sexto dia de greve de fome, Glauber permanece acampado no plenário da Câmara, protestando contra o processo movido pelo partido Novo. Sâmia denuncia o que classifica como uma escalada de perseguições a parlamentares de esquerda. “A permissividade para que se avance esse processo na Câmara dá um salvo-conduto para provocadores e para a extrema direita nas assembleias estaduais e câmaras municipais, e naturaliza uma perseguição aos mandatos de esquerda, combativos, independentes, que denunciam os poderosos”, afirmou.
Na semana passada, o deputado estadual Renato Freitas (PT-PR) também virou alvo de um processo de cassação, após participar de uma manifestação de professores. Já em São Caetano do Sul (SP), a vereadora Bruna Bittencourt, do Psol, enfrenta tentativa semelhante e denuncia motivações políticas.
Sâmia afirma que Glauber tem sido acompanhado por médicos voluntários e segue em repouso, ingerindo apenas água e soro. A greve teve início logo após a aprovação do relatório no Conselho de Ética, e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), ainda não se manifestou sobre o caso. “É preocupante, porque não tivemos até agora nenhum retorno da presidência da Casa. Agradeço aos parlamentares, ministros, movimentos sociais e artistas que estão conosco nesse momento. É o que dá força ao Glauber e reforça nossa pressão interna para que essa injustiça seja desfeita.”
A origem do processo remonta a um episódio de confronto com um militante do Movimento Brasil Livre (MBL), que ofendeu a mãe de Glauber. “Aquela briga, na verdade, foi uma reação a um provocador que pela sétima vez estava indo atrás de Glauber. Naquele dia, a mãe dele, dona Saudade, estava em estágio terminal de Alzheimer. Ela faleceu duas semanas depois”, relatou Sâmia.
Para golpistas, o perdão?
Ela também criticou a tentativa de acelerar a tramitação do Projeto de Lei (PL) da Anistia, articulado por parlamentares bolsonaristas. “Na mesma semana em que querem cassar Glauber, conseguiram assinaturas para votar a urgência da anistia. É chocante que parlamentares estejam dispostos a perdoar golpistas e punir um deputado que agiu em legítima defesa da honra da sua mãe. É muito assustador, mas não vamos deixar de lutar.”
Apesar do avanço do projeto, Sâmia acredita que a proposta encontrará resistência. “A anistia significaria um confronto direto com o Judiciário. A maioria das lideranças quer estabilidade. Eles podem até tentar salvar um dos seus, como o deputado [Alexandre] Ramagem, ex-diretor da Abin [Agência Brasileira de Inteligência], denunciado por envolvimento na tentativa de golpe. Mas vamos seguir lutando para que não avancem nem com a anistia, nem com esse corporativismo. Quem atentou contra a democracia deve ser responsabilizado.”
Para ouvir e assistir
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