Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, a ministra de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos (foto), falou sobre a estratégia do Brasil para fortalecer sua soberania tecnológica e científica no país, com foco no programa Nova Indústria Brasil (NIB) e a cooperação internacional com países do Sul Global, especialmente com a Rússia.
De acordo com a ministra Luciana Santos, a prioridade do governo de Luiz Inácio Lula da Silva tem sido desenvolver ativamente os grandes programas que integram o processo de reconstrução nacional. Segundo a ministra, um dos principais programas do governo é a NIB, que visa promover a reindustrialização do país com base em princípios sustentáveis e tecnológicos — algo que a gestão Lula considera plenamente possível, embora uma tarefa desafiadora.
A experiência da pandemia de COVID-19 evidenciou, conforme a ministra, o quanto a dependência externa pode ser prejudicial, até mesmo em itens básicos como máscaras e respiradores. Por isso, a NIB busca reduzir essa vulnerabilidade, apostando em seis grandes missões que refletem desafios globais: transição energética, transformação digital, domínio da inteligência artificial, fortalecimento da bioeconomia, entre outros.
Para Luciana Santos, a articulação com países do Sul Global, especialmente por meio do BRICS e da cooperação com a China, é uma das ferramentas fundamentais para estabelecer sinergias que permitam uma nova infraestrutura de pesquisa e desenvolvimento. Dessa forma, o país poderia se reposicionar em um novo patamar de desenvolvimento.
Nesse contexto, a ciência e a tecnologia ganham destaque como ferramentas centrais para essa inserção global, e a presença de três ministros brasileiros em missão oficial à Rússia demonstra a importância estratégica dessa cooperação, conta a ministra.
A relação entre Brasil e Rússia na área científica não é recente. Esse contato se desenvolve há anos, principalmente por meio de universidades e instituições subnacionais. No entanto, as áreas de maior interesse atualmente são a nuclear e a espacial, destaca a ministra.
“É natural que a Rússia tenha um histórico de domínio em ciências e tecnologias na área de Defesa, até pela herança da Guerra Fria. Acabou que, objetivamente, os russos têm um domínio tecnológico elevado nessas áreas“, afirmou Santos.
Durante a visita da ministra, foram assinados dois tipos de memorandos: um mais abrangente, cobrindo diversas áreas do conhecimento e outro focado especificamente na cooperação espacial. Embora o Brasil já tenha capacidade de produzir satélites, ainda depende de outros países para lançá-los. Nesse sentido, a parceria com a Rússia prevê o desenvolvimento conjunto de lançadores de veículos espaciais, com transferência de tecnologia, o que representa um avanço significativo para a soberania tecnológica nacional.
Segundo a ministra, o governo tem investido na soberania tecnológica, e a cooperação com a Rússia também é fundamental para o setor de energia nuclear.
A Rússia é “o principal fornecedor, hoje, de radioisótopos para o Brasil, que é um insumo muito importante para medicamentos contra o câncer, mas também para outros usos”, destaca a ministra ao afirmar que, embora o Brasil esteja desenvolvendo seu próprio reator, é uma obra de cinco, sete anos, daí a importância dessa parceria. (Sputnik)