A agência de defesa civil de Gaza afirmou que dezenas de milhares de palestinos deslocados foram impedidos de retornar ao norte do território neste domingo (26) por uma barreira militar israelense.
“Dezenas de milhares de pessoas deslocadas estão esperando perto do Corredor Netzarim para retornar ao norte da Faixa de Gaza”, disse à AFP o porta-voz da agência, Mahmud Bassal, com Israel se recusando a permitir sua passagem em uma disputa sobre a libertação de um refém.
Os jornalistas da AFP na área viram uma enorme multidão de habitantes de Gaza reunidos em uma estrada costeira perto da barreira, esperando para passar, com imagens aéreas mostrando a multidão se estendendo por centenas de metros em três direções.
Ismail al-Thawabtah, diretor geral do escritório de mídia do governo em Gaza, administrado pelo Hamas, também disse que havia dezenas de milhares de pessoas esperando no cruzamento.
Ele calculou o número total de habitantes de Gaza que desejam retornar ao norte em “entre 615 mil e 650 mil”. O Corredor Netzarim é uma faixa de terra de sete quilômetros militarizada por Israel que corta Gaza da fronteira israelense até o Mar Mediterrâneo. O corredor separa o norte do restante do território.
Como parte do acordo de cessar-fogo que começou há uma semana, Israel deveria permitir que os habitantes de Gaza deslocados atravessassem o corredor e voltassem para suas casas, e as autoridades do Hamas disseram que isso aconteceria no sábado.
Israel, no entanto, acusou o Hamas de renegar o acordo ao não libertar no sábado Arbel Yehud, que foi capturado durante o ataque de 7 de outubro de 2023 que desencadeou a guerra.
Por ser uma mulher civil, Yehud “deveria ter sido libertada hoje”, como parte da segunda troca de reféns e prisioneiros sob o acordo de trégua, disse um comunicado do gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu no sábado.
“Israel não permitirá a passagem de habitantes de Gaza para a parte norte da Faixa de Gaza até que a libertação do civil Arbel Yehud… seja providenciada”, disse o comunicado.
Duas fontes do Hamas disseram à AFP no sábado que Yehud estava “viva e com boa saúde”, e uma fonte disse que ela seria “libertada como parte da terceira troca marcada para o próximo sábado”, 1º de fevereiro.
Israel desrespeita acordo de trégua e volta a atacar o Líbano
Correspondentes da AFP viram comboios de dezenas de carros, alguns com bandeiras amarelas do Hezbollah, dirigindo-se para localidades devastadas pela guerra entre o movimento pró-iraniano e o Exército israelense.
Segundo o acordo que pôs fim, em 27 de novembro, a dois meses de conflito, o Exército israelense deveria concluir neste domingo, após 60 dias de prazo, sua retirada do sul do Líbano. No entanto, Israel já declarou que a operação militar continuará.
Na última semana o presidente libanês, Joseph Aoun, exigiu a retirada do Exército israelense “dentro dos prazos estabelecidos” no acordo que pôs fim à guerra entre Israel e o Hezbollah, iniciada no final de setembro de 2024.
O texto estipula que o Exército libanês deve posicionar suas tropas no sul do país ao lado das forças de paz da ONU. Por sua vez, o Hezbollah deve retirar suas forças ao norte do rio Litani, a cerca de 30 quilômetros da fronteira, e desmantelar qualquer infraestrutura militar remanescente na área.
O gabinete de Netanyahu disse em um comunicado na sexta-feira (24) que o acordo de cessar-fogo foi elaborado “com o entendimento de que o processo de retirada poderia se estender além do período de 60 dias”.
O gabinete do líder israelense ainda disse que, como “o acordo de cessar-fogo ainda não foi totalmente implementado pelo Estado libanês, o processo de retirada gradual continuará”, em coordenação com os EUA.
‘Métodos de guerra’
A Organização das Nações Unidas (ONU) expressou nesta sexta-feira (24) sérias preocupações sobre o uso da força pelos militares israelenses durante incursão na Cisjordânia nesta semana, citando o que eles chamaram de “métodos de guerra”.
“Estamos profundamente preocupados com o uso de força letal ilegal em Jenin, na Cisjordânia ocupada”, disse o porta-voz do escritório de direitos humanos da ONU, Thameen al-Kheetan, durante uma coletiva de imprensa em Genebra, na Suíça.
Kheetan disse que o escritório de direitos humanos da ONU verificou que pelo menos 12 palestinos foram mortos e 40 feridos pelas forças de segurança israelenses desde terça-feira (21), e acrescentou que a maioria estava desarmada.
“As operações mortais israelenses nos últimos dias levantam sérias preocupações sobre o uso desnecessário ou desproporcional da força, incluindo métodos de guerra que violam a lei internacional de direitos humanos e os padrões de aplicação da lei”, acrescentou o porta-voz.
“Isso inclui vários ataques aéreos e a tiros aparentemente aleatórios contra residentes desarmados que tentam fugir ou buscar segurança”, enfatizou.
O porta-voz reiterou que Israel, como a força ocupante do território, tem a obrigação de proteger civis que vivem sob a ocupação, segundo as diretrizes de proteção das leis internacionais.
Ele pediu que todas as mortes no contexto da aplicação da lei sejam investigadas de forma completa e independente. “Os responsáveis por mortes ilegais devem ser responsabilizados”, acrescentou
O chefe de direitos humanos da ONU, Volker Türk, pediu a Israel que adote e implemente regras de engajamento que estejam em total conforme com os padrões de direitos humanos. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que o objetivo da operação – apelidada de “Muro de Ferro” – era “erradicar o terrorismo” na área.
*Com AFP e ONU News