Brasília, 03/10/2024

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João Donato morre no Rio aos 88 anos

Morreu na madrugada desta segunda-feira (17), no Rio de Janeiro, o músico João Donato. A informação foi confirmada pela família do músico. O músico morreu em decorrência de uma série de problemas de saúde. Recentemente, ele teve uma infecção nos pulmões. Pianista, acordeonista, arranjador, cantor e compositor, João Donato de Oliveira Neto nasceu em 1934 em Rio Branco, no Acre.

João Donato tinha mais de 70 anos de carreira como músico, em uma carreira marcada pela criatividade e pelas misturas de vários gêneros musicais.

Carreira marcada pela inovação

A inovação pode ser vista desde cedo. Na infância, ele costumava brincar de música com flautinhas de bambu e panelas. Depois, recebeu de presente um acordeom de oito baixos e, mais tarde, um instrumento maior.

Em 1945, mudou-se para o Rio de Janeiro com a família. Na cidade, começou a tocar em festas do colégio onde estudava. Em uma delas, conheceu o grupo Namorados da Lua e fez amizade com Lúcio Alves, Nanai e Chicão.

Quatro anos depois, já atuava em jam-sessions realizadas na casa de Dick Farney e no Sinatra-Farney Fan Club, do qual era membro.

Iniciou sua carreira profissional em 1949, como integrante do grupo Altamiro Carrilho e Seu Regional, com o qual gravou, nesse ano, um álbum contendo as canções “Brejeiro”, de Ernesto Nazareth, e “Feliz aniversário”, de Altamiro Carrilho e Ari Duarte.

Em 1951, participou do programa de música nordestina “Manhãs da roça”, comandado por Zé do Norte, na Rádio Guanabara. Nessa época, começou a estudar piano.

O pianista acreano João Donato — Foto: Cristina Granato

O pianista acreano João Donato — Foto: Cristina Granato

Em seguida, substituiu Chiquinho do Acordeon no conjunto de Fafá Lemos em apresentação na boate Monte Carlo, no Rio de Janeiro. Atuou depois em outras casas noturnas, como Plaza, Drink, Sachas e Au Bom Gourmet.

Em 1953, formou seu próprio grupo, Donato e Seu Conjunto, com o qual lançou, ao longo do ano, dois discos em 78 RPM: “Tenderly” (J. Lawrence e W..Gross)/”Invitation” (Bronislau Kaper) e “Já chegou a hora (Rubens Campos e Henricão)/”You Belong to Me” (Pee Wee King, Stewart e Price).

Fez parte do grupo Os Namorados, com o qual gravou três discos em 78 RPM: “Eu quero um samba” (Haroldo Barbosa e Janet de Almeida)/”Três Ave-Marias” (Hanibal Cruz), em 1953; “Palpite infeliz” (Noel Rosa)/”Pagode em Xerém (Sebastião Gomes e Alcebádes Barcelos), em 1953; e “Você sorriu” (Valdemar Gomes e José Rosa)/”Não sou bobo” (Nanai, Ari Monteiro e L. Machado), em 1954.

Ainda em 1954, formou o Trio Donato, com o qual lançou um álbum contendo as canções “Se acaso você chegasse”, de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, e “Há muito tempo atrás, de J. Kern e I. Gershwin.

Em 1956, mudou-se para São Paulo, onde atuou como pianista do conjunto Os Copacabanas e na Orquestra de Luís Cesar. No mesmo ano, lançou, com o Donato e Seu Conjunto, um outro álbum, contendo as músicas “Farinhada”, de Zé Dantas, e “Comigo é assim”, de Luiz Bittencourt e José Menezes.

Ainda em 1956, gravou o primeiro LP: “Chá dançante”, produzido por Tom Jobim para a gravadora Odeon. No repertório, as canções “Comigo é assim”, de Luiz Bittencourt e Zé Menezes; “No Rancho Fundo”, de Ary Barroso e Lamartine Babo; “Se acaso você chegasse”, de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins; “Carinhoso”, de Pixinguinha e João de Barro; “Baião”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira; “Peguei um Ita no Norte”, de Dorival Caymmi; “Farinhada”, de Zé Dantas; e “Baião da Garoa”, de Luiz Gonzaga e Hervé Cordovil

Em 1958, voltou para o Rio de Janeiro e passou a dedicar-se ao piano. Nesse ano, gravou duas faixas no LP “Dance conosco”: “Minha saudade”, seu primeiro sucesso, e “Mambinho”. Ambas foram em parceria com João Gilberto. Nessa época, fez parte da Orquestra do Maestro Copinha, que se apresentava no Copacabana Palace.

Em 1959, viajou para o México com Nanai e Elizeth Cardoso. Em seguida, transferiu-se para os Estados Unidos, onde residiu durante três anos. Nesse país, atuou com Carl Tjader, Johnny Martinez, Tito Puente e Mongo Santa Maria. Donato também excursionou com João Gilberto pela Europa. Em 1962, voltou para o Brasil, casado com a atriz norte-americana Patricia del Sasser.

Em 1963, gravou o LP “Muito à vontade”. O disco foi lançado pela Polydor, com destaque para suas composições “Sambou… Sambou”, com João Melo; e “Caminho de casa”. Também nesse ano, lançou o LP “A bossa muito moderna de João Donato e seu Trio”.

Em seguida, retornou aos Estados Unidos, onde viveu por mais dez anos. Nesse país, gravou um LP com o saxofonista Bud Shank e com a violonista Rosinha de Valença, além dos discos “Piano of João Donato – The sound new sound of Brazil”, “A bad Donato”, que contou com a participação do contrabaixista Ron Carter, e “Donato Deodato – Feat. João Donato arranged and conducted by Deodato”, com arranjos de Eumir Deodato.

João Donato — Foto: Aylton Lelis Joaquim / Divulgação

João Donato — Foto: Aylton Lelis Joaquim / Divulgação

Parcerias

João Donato atuou com artistas como: Astrud Gilberto, Dorival Caymmi, Tom Jobim, Eumir Deodato, Stan Kenton, Nelson Riddle, Herbie Mann e Wes Montgomery, entre outros. Suas músicas “Amazonas”, na gravação de Chris Montez, e “A rã” e “Caranguejo”, ambas gravadas por Sérgio Mendes, fizeram sucesso junto ao público norte-americano.

Em 1972, voltou para o Brasil e gravou o LP “Quem é quem”, lançado pela Odeon no ano seguinte. O álbum conta com músicas com letras cantadas pelo próprio compositor, até então intérprete de música instrumental. Entre os destaques estão “Até quem sabe”, com Lysias Ênio, e “Chorou, chorou”, com Paulo César Pinheiro.

Em 1974, assinou a direção musical e participou do show “Cantar”, realizado por Gal Costa no Teatro da Praia, no Rio de Janeiro. O espetáculo foi registrado em disco, com um repertório que incluiu suas canções “Até quem sabe” e “A rã”, com Caetano Veloso.

Em 1975, gravou o LP “Lugar comum”. Em 1986, lançou o LP “Leilíadas”.

Em 1997, gravou, com o baterista Eloir de Morais, o CD “Café com pão”, pelo qual recebeu duas indicações para o Prêmio Sharp: Melhor Disco e Melhor Arranjador.

No mesmo ano, lançou o CD “Coisas tão simples”, destacando-se no repertório quatro canções inéditas de sua autoria: “Fonte de saudade”, com Lisias Ênio; “Everyday”, com Norman Gimbel; “Summer of tentation”, com Toshiro Ono; e “Doralinda”, com Cazuza.

Em 1998, apresentou-se novamente na casa noturna Mistura Fina com o show “Café com pão”, acompanhado do baterista Eloir de Morais.

Como arranjador, destacam-se entre seus trabalhos os CDs “O homem de Aquarius”, de Tom Jobim, e “Minha saudade”, de Lisa Ono, além de discos de Fagner, Gal Costa e Martinho da Vila. (TV Globo)

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