Brasília, 03/10/2024

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Líder na corrida presidencial, Milei nega número de desaparecidos da ditadura

Um dos assuntos que mais mexem com os brios da sociedade argentina são as violações de direitos humanos da ditadura militar. Foi esse o tema escolhido pelo candidato Javier Milei para elevar a temperatura do debate deste domingo (1º), o primeiro antes das eleições presidenciais de 22 de outubro.

“Não foram 30 mil desaparecidos, foram 8.753”, disse o candidato de extrema direita que lidera a maioria das pesquisas, subindo o tom de voz pela primeira vez após uma hora de evento. O número oficial é 8.631 mortos e desaparecidos no período de 1976 a 1983 — última e mais brutal etapa ditatorial — segundo o Registro Unificado de Vítimas do Terrorismo de Estado, mas o próprio relatório reconhece que a cifra é subestimada. Entidades de direitos humanos estimam o total em cerca de 30 mil.

Milei também afirmou que há “uma visão torta da história”, chamou grupos guerrilheiros de terroristas e acusou pessoas de usar a ideologia dos direitos humanos “para ganhar dinheiro e realizar negócios obscuros”.

A candidata Myriam Bregman (esquerda) contestou. “Eu precisaria de quatro ou cinco horas para responder às barbaridades que ouvi”, afirmou, acrescentando que “são 30 mil e foi um genocídio”. Também foi dela uma das frases mais comentadas nas mídias sociais: “Não é um leão, é um gatinho mimado do poder econômico”, em referência ao animal com que Milei costuma se comparar.

Apesar da intervenção provocativa sobre as vítimas da ditadura, a avaliação geral da imprensa local é de que Milei se apresentou mais comedido que de costume, e que pode ter obtido um bom resultado caso sua intenção fosse consolidar apoios. Quanto aos principais adversários, Sergio Massa (peronista e atual ministro da Economia) buscou apresentar propostas e vender a ideia de um governo de coalizão. Patricia Bullrich (macrista) tentou reforçar a imagem de corajosa e linha-dura.

Inflação

Ao abordar a hiperinflação e a crise econômica, Massa disse apostar em investimentos nos setores energético, mineiro e agropecuário para inverter a balança comercial e obter mais dólares com exportações. Havia uma expectativa de que revelasse seus nomes cotados para comandar o Ministério da Economia e o Banco Central, mas ele não o fez.

A inflação foi o tema mais presente no debate. Os dois principais candidatos de direita, Milei e Bullrich, propõem, em diferentes graus, uma dolarização da economia, a redução de gastos públicos e a abertura dos mercados. Bullrich criticou a promessa de Milei de fechar o Banco Central dizendo que poucos países não têm bancos centrais, e são todos paraísos fiscais. Mas desviou de perguntas sobre seu plano econômico, o que foi ressaltado pelo adversário.

Massa, por sua vez, procurou se desviar do impopular presidente Alberto Fernández. “Eu tenho claro que a inflação é um problema enorme. Também tenho claro que os erros deste governo causaram danos às pessoas. E por isso, embora eu não fosse parte até assumir como ministro da Economia [em agosto de 2022], peço desculpas”.

Pesquisas

Analistas consultados por jornais argentinos acham que dificilmente o debate, pelo menos este inicial — haverá outro no próximo domingo —, terá impacto profundo na intenção de voto. Até o momento, todas as pesquisas colocam Milei em primeiro lugar, porém estancado em torno de 35% das intenções de voto, portanto sem chance aparente de vencer no primeiro turno — precisaria de 45% dos votos válidos ou 40% mais uma distância de 10 pontos em relação ao segundo colocado.

A maioria das consultas coloca Massa em segundo lugar, perto dos 30%, e Bullrich em torno de 25%, embora algumas apontem Massa em empate técnico com Milei na liderança e outras enxerguem um crescimento de Bullrich, que poderia estar em empate técnico com Massa na segunda colocação.

Uma delas, divulgada antes do debate, é uma pesquisa do analista anti-kirchnerista Jorge Giacobbe, que coloca Bullrich em segundo lugar, com 27,8%, ante 27,4% de Massa — e 33,9% de Milei. Já uma pesquisa do Centro de Estudos de Opinião Pública da Argentina (CEOP), divulgada também pouco antes do debate, mostra empate técnico entre Milei (34,1%) e Massa (32,2%) — o primeiro parado em relação à sondagem anterior e o segundo, com 1,6 ponto a mais. Bullrich, também estagnada, aparece com 24,9%.

Aparentemente, a eleição está indefinida.

(Com informações da Folha de S.Paulo, Clarín e El País)

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