Nomeação de Marco Rubio para a chefia da política externa norte-americana sob Trump acende alarmes na América Latina. Conhecido por uma política intervencionista, Rubio não fará as pazes com governos progressistas e poderá agir para desestabilizar o governo brasileiro, alerta especialista ouvido pela Sputnik Brasil.
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, revelou traços da política externa de seu segundo mandato ao indicar o senador pelo estado da Flórida, Marco Rubio, para o posto de secretário de Estado. Caso confirmado para o cargo, Rubio será o primeiro norte-americano de ascendência latina a ocupar o posto equivalente a ministro das Relações Exteriores no Brasil.
“Marco é um líder altamente respeitado e uma voz muito poderosa em prol da liberdade”, escreveu o presidente eleito dos EUA, Donald Trump. “Ele será um forte defensor de nossa nação, um verdadeiro amigo de nossos aliados e um guerreiro destemido que nunca recuará diante de nossos adversários.”
A indicação de Rubio foi um balde de água fria para quem esperava inovações na política externa trumpista. Como membro das comissões de Relações Exteriores e de Inteligência do Senado, Marco Rubio defendeu temas clássicos da agenda neoconservadora norte-americana, garantindo apoio incondicional a Israel e antagonizando com China, Rússia e Irã.
Então candidato à presidência da República dos EUA, Donald Trump, fala com o senador Marco Rubio, durante comício de campanha em Raleigh, Carolina do Norte, EUA, 4 de novembro de 2024
“Querendo ou não, a indicação de Marco Rubio é a mais convencional dentre as nomeações feitas por Trump até agora“, disse a pesquisadora-colaboradora do IESP-UERJ, Monica Hirst, à Sputnik Brasil. “Rubio tem uma carreira política consolidada e certa legitimidade para assumir o cargo, já que lidava com temas de política externa no Senado norte-americano.”
Segundo a especialista em relações Brasil-EUA Hirst, ainda que Rubio tenha posições distintas das de Trump, o seu perfil é de executor, e não formulador de políticas públicas.
“Caso Rubio queira permanecer no cargo, ele terá que se adaptar às posições do chefe do Executivo”, notou Hirst. “A primeira administração Trump foi marcada por alta rotatividade, com o tempo médio de dois anos de permanência em cargos de alto nível.”
Apesar de serem considerados rivais dentro do Partido Republicano, Trump e Rubio coordenam posições sobre assuntos latino-americanos já há algum tempo. De acordo com a Associated Press, Rubio aprovou indicações de embaixadores para a região durante o primeiro mandato de Trump e representou o presidente em visitas oficiais à região.
“É inevitável que a região ganhe algum peso [durante o mandato de Rubio], dadas as devidas proporções, afinal já faz muito tempo que a América Latina não é prioridade estratégica para os EUA”, lembrou Hirst. “E Marco Rubio já nomeou seus alvos preferenciais: Cuba, Nicarágua e Venezuela.”
Para a especialista, estar no centro das atenções da administração norte-americana não é necessariamente algo positivo. Hirst lembra a atenção dada ao México, “que está no topo da agenda em função do pânico da deportação massiva de imigrantes”. No caso da Venezuela, a expectativa é de reforço da agenda de sanções econômicas e aumento da pressão sobre o governo de Nicolás Maduro. (Sputnik)